sexta-feira, 12 de agosto de 2011

12-08


Hoje é sexta-feira, o dia mais legal da semana...
É difícil reconhecer, se render ,se posicionar, é mais fácil tapar o sol com a peneira e deixar que a culpa venha do tempo ou a solução.
eu não posso deixar a deriva; é de minha vida que estou falando, e também não gosto de estar assim, não sou depressiva só estou.
Ontem depois de algumas conversas inclusive com pessoas que me ajudam terapicamente eu resolvi me render e me posicionar, acho que assim o universo, Deus, meus guias possam realmente me ajudar.
Essas linhas são pra registrar não só pra me expor, mas pra me ajudar, porque assim eu sei que posso assinar esse contrato comigo e não deixar as coisas declinarem e nem descobri que o fundo do poço tem porão.
A sensações dos remédios a medida que eles vão se adaptando a mim e eu a eles parecem surgir algum efeito, há uma linha tênue e fico um tantinho mais lerda, mas ainda sou a mesma. Só que com menos fúria e menos reação. Não quero fazer disso uma muleta, mas por ora preciso disso.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Diário depressivo


Minha vida, minha escrita, meu jeito 

Faço terapia por meio da escrita então resolvi criar um diário pra minha recuperação.

Alguns dias atrás um email me tirou do centro, um email particular e pessoal. Eu estava com quase, quase tudo em ordem, mas algumas frases me fez escorregar e ir de novo ao fundo do meu poço. Sou teatral, sou apocalíptica, gosto de atenção, não ligo em aparecer. Mas estar assim fechada, retraída, quieta, me faz ficar diferente do que sou e não gosto, eu sou vida, sou luz e não curto o escuro e a sombra, apesar de que isso me ronda a muito tempo; tenho um lado depressivo, chato e mal humorado que me faz isolar sair do foco, abaixar a bola, esse conflito me mata aos pouco, essa dicotomia de mim mesma me dilacera e entro em depressão e fico triste e com o olhar bem sinistro, bem escuro... Resolvi então procurar ajuda profissional... alguns remédios e as coisas tendem a voltar ao normal. Mas o processo é lento é um dia de cada vez, um só por hoje. E ainda por cima os dias andam cinzas e meu humor fica taciturno, fechado e fico mais calada.

Na segunda-feira ainda muito quieta comecei a tomar a medicação, essas coisas deixam a gente diferente, são entorpecentes receitados pelo médico. Um deles me deixa zonza com sono e o que mais tenho feito: é dormir. O outro tem que fazer o efeito ao contrario me deixa mais alegre, as vezes penso na incoerência disso...um remédio pra dormir outro pra acordar.

Na terça feira ainda estranha me sinto mais fechada e e muito mais pensativa sem vontade de nada, nem de interagir com meus amigos no Facebook que pra mim é distração na certa.

Na quarta fui à minha consulta ao fisioterapeuta de RPG e ele me achou estranha e veio me perguntar o que eu tinha. Expliquei pra ele e ele achou estranho,  pois me acha uma pessoa muito alegre pra ficar assim. O que as pessoas precisam de uma vez por todas entender é: que depressão não é frescura, é uma doença que tem CID F32 (http://www.clinicaverri.com.br/_conteudo/cid10.pdf), que tem sintomas, que tem tratamento. E sempre ouço, "você tem que fazer coisas que você goste", ou então "poxa eu não gosto de te ver assim", " ahh vc tem que reagir" . Então, tudo um tanto complicado, fazer coisas que eu gosto; quando estou assim nem sei mais o que gosto, não gosto nem de mim quanto mais gostar de alguma coisa. Ter que reagir!!! Reagir?? o que é reagir? Há uma química diferente nessa droga de depressão e tudo isso eu entendo, tenho até uma certa lucidez em perceber o quanto estou quieta e chata, mas espero em reagir por meio desses medicamentos seja lá o que elas vão fazer, porquê no momento não sei como reagir, pois a única coisa que penso é em dormir pra passar tudo isso mais rápido. Não sei ao certo se tudo isso é certo, mas eu sei que por ora eu estou assim e preciso disso.

Hoje é quinta-feira e me sinto cansada e com dores nas costas. Mas já não estou com vontade de chorar e agora mesmo me peguei cantando um refrão de uma música que gosto muito. Então vou ficando com o lema do SÓ POR HOJE, que adaptei pro "só por agora", assim não fico tão ansiosa pra terminar o só por hoje. Afffe pensa numa complicação imensa, mas só por agora eu estou bem.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

(Se me permitem!?)

A TRISTEZA PERMITIDA (Marta Medeiros)


Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.
Martha Medeiros