terça-feira, 29 de julho de 2008

Mensagem - Fernando Pessoa

Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum

Nota Preliminar

'O entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do intérprete que
possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os símbolos serão para ele
mortos, e ele um morto para eles.

A primeira é a simpatia; não direi a primeira em tempo, mas a primeira conforme vou
citando, e cito por graus de simplicidade. Tem o intérprete que sentir simpatia pelo
símbolo que se propõe interpretar.

A segunda é a intuição. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe, porém não criála.
Por intuição se entende aquela espécie de entendimento com que se sente o que
está além do símbolo, sem que se veja.

A terceira é a inteligência. A inteligência analisa, decompõe, reconstrói noutro nível o
símbolo; tem, porém, que fazê-lo depois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi
erudição, como poderia no exame dos símbolos, é o de relacionar no alto o que está
de acordo com a relação que está embaixo. Não poderá fazer isto se a simpatia não
tiver lembrado essa relação, se a intuição a não tiver estabelecido. Então a
inteligência, de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo
poderá ser interpretado.

A quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de outras
matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionado
com vários outros símbolos, pois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição,
como poderia ter dito, pois a erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura
é uma síntese; e a compreensão é uma vida. Assim certos símbolos não podem ser
bem entendidos se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de
símbolos diferentes.

A quinta é a menos definível. Direi talvez, falando a uns, que é a graça, falando a
outros, que é a mão do Superior Incógnito, falando a terceiros, que é o
Conhecimento e a Conversação do Santo Anjo da Guarda, entendendo cada uma
destas coisas, que são a mesma da maneira como as entendem aqueles que delas
usam, falando ou escrevendo.'

Doce/Amargo

Um dia desses eu estava chupando uma lima da pérsia. O aroma dela é muito perfumado, a cor é muito bonita, quando você morde aqueles gominhos explodem na sua boca fazendo com que o suco se espalhe, ai veio o paladar, e infelizmente ela estava amarga, havia um docinho no seu gosto,mas predominava o amargo. Era um doce/amargo. Começava doce e terminava amargo, mesmo assim continuava comendo aquela fruta, para sentir mais uma vez o doce, e no final ficar amargo, a boca amarga pedia mais uma vez que eu mordesse, chupasse a fruta para amenizá-la e depois de novo amargar. E me peguei pensando o porquê de eu estar querendo mais uma vez sentir aquele amargo, se o que eu gostava era o doce, mas eles estavam juntos, o doce com o amargo, não dava para separar.
Quantos amargos na nossa vida temos que aceitar mesmo não querendo.
Por resignação?
Por falta de opção?
Por estar junto: doce/amargo.
Ou mesmo pela circunstância que está inserido naquele momento.
E quando terminei com aquela fruta ainda sentia o doce na boca, mas o que predominava era o amargo.
No outro dia peguei outra lima para comer, e ela não estava amarga, estava doce. E pensei: nem sempre o padrão se repete.
Ainda bem.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Diário de bordo - Fragmento de um dia qualquer

A pena hoje não quer correr, insisti em ficar batendo na mesma palavra: VOCÊ .Tentei persuadi-la e fui ler, peguei Dom Casmurro, mas Bentinho me irrita com sua passividade. Tentei não mais pensar que a passividade dele era reflexo da minha. Hoje queria estar passional, quem sabe assim colocaria alguma coisa em sua cabeça oca.Como nada é perfeito lembrei das convenções.
Cansada de todos os dias bater o cartão, apesar que hoje bati o carro também. O meu amassou, o do cara nem um risco, ainda bem prejuízo mínimo.
Cheguei para trabalhar e não tínhamos internet, pareceria que seria um dia daqueles, mas nem me incomodei no final o dia sempre acaba bem.
Lembrando do livro, lembrei da Capitú, toda vez que penso nela quero acreditar que não traiu Bentinho.
Que você acha?
Penso que Machado queria mostrar para as pessoas como somos rotulados o tempo todo, julgados, como somos prepotentes e pretendemos controlar tudo. Porque somos tão fracos quando o assunto é carnal?
Porque há tentação de ter TUDO do melhor sempre nos assombra? Como diz Zeca Baleiro, onde entra a alma nisso tudo.... já que o amor é tão carnal, mas não só o amor, falta tanto para sermos mais espiritualizados.
Cade o espírito?
A sua crença?
A sua fé?
Ainda terei que reencarnar mais umas vezes para poder entender disso. Fico no aguardo da vida me responder, enquanto isso minhas escritas vão crescendo e vou crescendo com ela. Cada linha feita enche minha alma (olha ela ai de novo) de esperança. Não quero fazer a cabeça de ninguém. Há pessoas que são formadoras de opinião, mas não me enquadro nisso, não tenho esse dom.
Mas, a pena tende a escrever e como Álvaro Campo diz: 'Tenho febre e escrevo'.É o que sei fazer, não dá para ser se não houver linhas escritas.
Não tenho pretensão de curar a alma humana, quero me curar, isso já me basta. Fazer um palco de minha vida e nela ser a protagonista que passa por catarses, mas que seja a heroína de tudo que sou e no final dela, estaremos olhando o pôr-do-sol do mar prata. Com todas essas personagens que criei e foram partes intrínsecas de mim.
E a pena corre, como corre sangue em minhas veias, muitas vezes sofredoras como um Manuel Bandeira; às vezes debochada como Machado Assis; ao âmago como Carlos Drummond de Andrade; a procura de mim mesma como Clarice Lispector; entendedora da alma humana como Rubem Alves ou encantada como Neil Gaiman. Todos eles e muito mais habitam à minha pena, cada vez que ela escorre no papel.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

On/Off



Hoje já não sei ao certo do amor que tive.
Por certo amor tem prazo de validade.
Mas, o que é o amor?
É algo que sentimos por um par de sapatos novos?
Quando criança por sua doce avó?
Ou por um amigo da escola?
Pelo seu chefe? Pára ninguém há de amar o chefe. Chefe é chefe, salvo as exceções, há não ser uma secretária interesseira.
Hoje me peguei pensando egoisticamente no sentimento AMAR.
Amar de entranhas que pulsa no meu estômago, fiquei enjoada de pensar nessa amor.
Então pensei num desamor, fui procurar no dicionário, pois achei que desamor não existisse. Mas, é claro que existe. Está lá ...no Michaellis... desamor- subs. Masculino: falta de amor, desafeição desapego, desprezo e como segunda opção crueldade. Como sempre acho muito limitado os verbetes, fiquei pensando o que será que seja um DESAMOR.
Será que alguém me ensina como desamar alguém?
Então há como desamar?
Aliás como há de AMAR?
Se desamar é substantivo masculino, desamor é verbo? Então será um verbo de (des)ação? Ahhh.. já está me complicando.
Se amar é complicado desamar deve ser pior, poderia ser um botão de ON/OFF. Assim ninguém mais ficaria preso as artimanhas desse sentimento tão complicado que é AMAR. Mas, complicado mesmo somos nós, que sempre querendo respostas para tudo. Tem coisa que é simples: não tem resposta, pelo menos não neste mundo.
Affe cansei....

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Amor e Luz- Riquezas do Coração

-Por Wagner Borges -

Quem ama, compreende.
Sabe que os corações se tocam, mesmo à distância.
Reconhece a sintonia, para além dos sentidos.
Viaja na alegria de sentir. Fica alegre por existir.
Quando há amor, os olhos brilham muito.
Por onde se olha, tudo parece mais vivo.
Por onde for, é dois em um: há outro coração no seu.
Mas, só quem ama realmente é que sabe disso.
A mente é incapaz de entender tal coisa.
Pois isso não se explica, só se sente...
Quando há amor, a aura brilha e os chacras tornam-se sóis.
Toda sujeira psíquica é transformada, e tudo que é trevoso se
afasta.
E não é preciso dizer nada. A luz se comunica com a luz.
Assim como o amor chama o amor. E a sintonia liga os seres.
Quem ama, sabe. Há outro coração no seu.
E o sol em seus olhos já diz tudo.
Pode-se explicar isso? Não, não! Isso só se sente...
E quem sente, sabe que, quando o coração fala ao coração,
Não há mais nada a dizer.

P.S.: Há coisas que não são da Terra, e o mundo não pode dar.
Estão além dos sentidos. São coisas da alma.
Mas bem poucos sabem disso.
Há uma riqueza que a traça não rói, e o tempo não destrói.
É a luz que mora no coração.
Quem ama, sabe. Reconhece o valor e luta por ele.
E o seu semblante fica lindo. Como o sol.
Pois a luz chama a luz, assim como o amor chama o amor.
E existe algo mais lindo que isso?

(Esses escritos são dedicados a Jesus, amigo dos homens, e a Babaji,
padrinho dos iogues).

Paz e Luz.

Cotidiano

Apresso-me para sair

Mas, onde ir?
Só não quero ficar.
Há sempre algo para se (des)fazer
Vá lá se não for uma conta para pagar!
Mas que presença de uma ameaça,
me profana?
Um vadia vida insensata
Uma besta parada na porta de casa
Nem posso estacionar.
Cães latem;
Já aqui também não há como ficar.


Mas, onde ir?
Espaços atabalhoados de você em mim.
Uma preguiça de estar.
Um apego
Um rechaço
talvez fracasso.
Pode ser que vá.

Mas, onde ir?
Não terei que desta vez
me justificar.

Afinal apenas um ir.
Mas, onde?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

um outro olhar

'Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.'
[Carlos Drummond de Andrade]

Mario Quintana

O Anjo

O meu Anjo da Guarda de asas negras
tem uns olhos tão verdes como os teus.
E a mesma pele mate e... benza-o Deus!...
também teus lábios dolorosos...
Como o prendeste assim num sortilégio,
para ficares – sempre – junto a mim?!
Ou fui eu que inventei a tua aparência,
nesta longa loucura sem remédio...
Pois não só neste como no outro mundo
o quanto eu vejo se transforma em ti.
Sei lá se o Anjo entende uns tais mistérios...
Só sei que certa noite o pressenti...
Mas baixei os meus olhos incestuosos
E os meus lábios sacrílegos mordi.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Uma Oração Celta
Bendito seja o anseio que te trouxe aqui e que aviva a tua alma com assombro.
Que tenhas a coragem de acolher o teu anseio eterno.
Que aprecies a companhia crítica e criativa da pergunta “Quem sou eu?” e que ela ilumine o teu anseio.
Que uma secreta Providência Divina guie o teu pensamento e proteja o teu sentimento.
Que a tua mente habite a tua vida com a mesma certeza com que teu corpo se integra ao mundo.
Que a sensação de algo ausente amplie a tua vida.
Que a tua alma seja livre como as sempre renovadas ondas do mar.
Que vivas perto do assombro.
Que te integres ao amor com o arrebatamento da Dança.
Que saibas que estás sempre incluído no benévolo círculo de Deus.