quarta-feira, 23 de julho de 2008

Diário de bordo - Fragmento de um dia qualquer

A pena hoje não quer correr, insisti em ficar batendo na mesma palavra: VOCÊ .Tentei persuadi-la e fui ler, peguei Dom Casmurro, mas Bentinho me irrita com sua passividade. Tentei não mais pensar que a passividade dele era reflexo da minha. Hoje queria estar passional, quem sabe assim colocaria alguma coisa em sua cabeça oca.Como nada é perfeito lembrei das convenções.
Cansada de todos os dias bater o cartão, apesar que hoje bati o carro também. O meu amassou, o do cara nem um risco, ainda bem prejuízo mínimo.
Cheguei para trabalhar e não tínhamos internet, pareceria que seria um dia daqueles, mas nem me incomodei no final o dia sempre acaba bem.
Lembrando do livro, lembrei da Capitú, toda vez que penso nela quero acreditar que não traiu Bentinho.
Que você acha?
Penso que Machado queria mostrar para as pessoas como somos rotulados o tempo todo, julgados, como somos prepotentes e pretendemos controlar tudo. Porque somos tão fracos quando o assunto é carnal?
Porque há tentação de ter TUDO do melhor sempre nos assombra? Como diz Zeca Baleiro, onde entra a alma nisso tudo.... já que o amor é tão carnal, mas não só o amor, falta tanto para sermos mais espiritualizados.
Cade o espírito?
A sua crença?
A sua fé?
Ainda terei que reencarnar mais umas vezes para poder entender disso. Fico no aguardo da vida me responder, enquanto isso minhas escritas vão crescendo e vou crescendo com ela. Cada linha feita enche minha alma (olha ela ai de novo) de esperança. Não quero fazer a cabeça de ninguém. Há pessoas que são formadoras de opinião, mas não me enquadro nisso, não tenho esse dom.
Mas, a pena tende a escrever e como Álvaro Campo diz: 'Tenho febre e escrevo'.É o que sei fazer, não dá para ser se não houver linhas escritas.
Não tenho pretensão de curar a alma humana, quero me curar, isso já me basta. Fazer um palco de minha vida e nela ser a protagonista que passa por catarses, mas que seja a heroína de tudo que sou e no final dela, estaremos olhando o pôr-do-sol do mar prata. Com todas essas personagens que criei e foram partes intrínsecas de mim.
E a pena corre, como corre sangue em minhas veias, muitas vezes sofredoras como um Manuel Bandeira; às vezes debochada como Machado Assis; ao âmago como Carlos Drummond de Andrade; a procura de mim mesma como Clarice Lispector; entendedora da alma humana como Rubem Alves ou encantada como Neil Gaiman. Todos eles e muito mais habitam à minha pena, cada vez que ela escorre no papel.

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